O Brasil à frente do pensamento emergente
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Organizar o Think20 e prover líderes com estudos de qualidade e impacto será o grande desafio de Ipea, Funag e Cebri
Por Luciana Servo, Márcia Loureiro e Julia Dias Leite
O Grupo dos 20 (G20) foi fundado em 1999, após a crise asiática, como um fórum de ministros das finanças e de presidentes de bancos centrais. A iniciativa reconhecia, ao menos de modo implícito, que países emergentes não estavam adequadamente representados na governança e discussão econômica global. Desde o princípio, o grupo inclui 19 países e a União Europeia. Em 2008, em meio a uma nova crise global, o G20 foi elevado ao nível de chefes de governo e, gradualmente, novos temas e atores foram incorporados às discussões dentro de seus fóruns. O grupo representa cerca de 65% da população mundial, 79% do comércio global e pelo menos 85% da economia mundial.
Embora a reunião de cúpula — encontro dos chefes de governo, realizado anualmente sob uma presidência rotativa — seja a face mais conhecida do G20, ele também conta com grupos de engajamento, que se organizam por setores da sociedade civil, movimentos sociais ou outros poderes. Um desses grupos é o T20 (Think20), que reúne os principais think tanks dos países do G20 e convidados. Na presidência brasileira do G20, a partir de dezembro de 2023, a organização dos debates do T20 estará a cargo de três think tanks brasileiros: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
O Comitê Organizador do T20 foi formalizado em 30 de maio e realizará os trabalhos de mobilização de think tanks e acadêmicos nacionais e estrangeiros. A principal missão do Think20 é fornecer recomendações ao G20, podendo propor temas que ainda não estão na agenda, mas que, na percepção dos especialistas, mereceriam atenção dos grupos de trabalho e dos líderes. O comitê será responsável pela organização das seis forças-tarefas cujos temas, de natureza global, serão definidos numa consulta que envolverá os demais think tanks, pautas das edições anteriores e as prioridades do G20 durante a presidência brasileira.
Essas prioridades ainda não foram anunciadas, mas é possível que estejam presentes na agenda da presidência brasileira segurança alimentar e nutricional, combate à pobreza, à desigualdade e a todas as formas de discriminação, empoderamento feminino, questão ambiental, biodiversidade e mudança climática, reforma da governança multilateral e do sistema financeiro internacional e financiamento do desenvolvimento sustentável.
Além do Comitê Organizador, será estabelecido um grupo de articulação nacional para engajar os think tanks brasileiros de modo a garantir maior representatividade temática e geográfica nas atividades do T20. No caso dos think tanks estrangeiros, será criado um grupo de aconselhamento com representantes dos países que compõem o G20, incluindo tanto think tanks que já participam do T20 como outros com expertise nos temas das forças-tarefas.
A fim de fortalecer a colaboração e cooperação entre os think tanks do G20, a publicação de policy briefs do T20 exigirá, além da rotina de revisão por pares realizada pelas forças-tarefas, que todos os documentos sejam em coautoria, com diversidade e pluralidade. Os artigos terão pelo menos um homem e uma mulher como coautores, e os autores deverão ser de think tanks diferentes e de diferentes países. A série de publicações refletirá sobre problemas relevantes para a agenda do G20 e proporá soluções e recomendações construídas em parceria.
Organizar o G20 no Brasil é uma grande responsabilidade. Organizar o T20 e prover os líderes políticos com estudos de qualidade e impacto será o grande desafio de Ipea, Funag e Cebri, dando continuidade ao trabalho produtivo do Comitê Organizador indiano. Nosso compromisso é envidar os melhores esforços para que o Brasil seja bem representado.
Luciana Servo é presidente do Ipea, Márcia Loureiro é presidente da Funag, Julia Dias Leite é diretora-presidente do Cebri