A interconexão além do eixo RJ-SP
Por Gustavo Pereira, Diretor de Redes da Elea Digital Data Centers.
A digitalização acelerada está transformando radicalmente o cenário tecnológico, impulsionando um aumento exponencial no volume de tráfego e introduzindo novas complexidades, especialmente no que diz respeito à localização e processamento de dados. Como diretor de redes de uma empresa de data centers, compreendo os desafios enfrentados pelos clientes ao acessar clouds fora do eixo Rio-São Paulo. Ainda vemos, fora das grandes cidades, a dificuldade de algumas empresas em se hospedarem em data centers e obterem um SLA (Service Level Agreement) premium – contrato que define padrões de desempenho e qualidade que serão monitorados para garantir o atendimento às expectativas acordadas.
Toda essa transformação requer uma infraestrutura robusta que permita o processamento, armazenamento e transmissão de dados entre empresas, instituições e sistemas com agilidade e eficiência. A interconexão dentro e entre data centers desempenha um papel crucial nesse processo, permitindo o fluxo amplo, livre e ininterrupto de dados. Mais especificamente, os edge data centers se destacam nesse cenário, sendo projetados para oferecer conectividade facilitada aos usuários próximos de seus pontos de presença, promovendo baixa latência. Como resultado, clientes corporativos têm experimentado o acesso a soluções mais integradas e simplificadas em regiões fora do eixo RJ-SP.
Um grande exemplo dessa mudança é Porto Alegre. A cidade possui potencial para se tornar o principal hub da região. O Sul do Brasil e da América do Sul estão, cada vez mais, amplamente servidos pelo conteúdo hospedado no território. Estudos e análises técnicas em curso para a breve chegada de um cabo submarino na costa gaúcha, apontam para um protagonismo ainda maior no futuro, o que tem atraído a atenção de grandes provedores de nuvem e conteúdo. A Elea Digital Data Centers, por exemplo, expandiu, recentemente, o seu data center POA2. O espaço surge como uma solução de valor para empresas que buscam hospedar conteúdo localmente em Porto Alegre. Esse movimento é especialmente relevante neste momento, dado o crescimento do mercado brasileiro, que registrou um aumento de 628% entre 2013 e 2023, conforme indicado pelo relatório da Brazil Data Center Report.
Outro ponto importante que impulsionará a demanda por interconexão além do eixo RJ-SP é a popularização da Inteligência Artificial (IA). Com o aumento da disponibilidade da IA e da sua difusão em aplicações instantâneas, a localização dos data centers é crucial. A demanda por uma experiência do usuário aprimorada impulsiona a necessidade de processamento de dados local, especialmente em aplicações que exigem o imediatismo da IA. Um exemplo disso são as smart cities, que representam uma visão do futuro, onde a interconexão robusta e regional é vital para a operação eficiente de sistemas e dispositivos interconectados e utilizando IA em tempo real. Isso impulsiona a necessidade de uma infraestrutura de data center estratégica e bem distribuída, como os edges data centers, para atender às exigências desse novo ecossistema tecnológico.
Embora seja verdade que o treinamento de modelos de IA sejam indiferentes a latência, o mesmo não se aplica quando consideramos o seu uso. É necessário reforçar que a redução da latência desempenha um papel determinante na utilização dessas novas tecnologias. A proximidade do processamento de dados em aplicações de realtime é e continuará sendo essencial, especialmente para aplicações de inteligência artificial. O consumo diário e a resposta quase imediata exigem que o processamento ocorra mais próximo do usuário/aplicação. Isso ressalta a importância dos edge data centers, onde o processamento de dados na borda continua sendo fundamental para garantir um retorno eficaz às demandas.
E, reconheçamos que, quanto mais digitalizamos, mais dependemos da disponibilidade, confiabilidade e da segurança sobre onde os dados estão sendo processados. Temos de considerar como podemos acompanhar o crescimento exponencial do tráfego, processamento e das mudanças comportamentais da sociedade, garantindo que nossas infraestruturas estejam preparadas para oferecer serviços de qualidade premium, independentemente da localização geográfica dos nossos clientes. Este é um desafio que nós, habilitadores da infraestrutura de redes, abraçamos com entusiasmo, pois buscamos impulsionar a conectividade e a acessibilidade em todo o país, apoiando os nossos clientes a alcançar seus objetivos de negócios em um ambiente digital em constante evolução.
