12 de agosto de 2024

O desafio de ser competitivo e sustentável

Por Rogério Bruck, COO da Elea Digital Data Centers

Hoje, é impossível falar em indústria sem falar em sustentabilidade – e o setor de data centers não é exceção. A conscientização sobre a finitude dos recursos naturais do planeta exige que busquemos operações mais eficientes e utilizemos esses recursos de forma mais racional e responsável. A sustentabilidade está diretamente ligada à longevidade, pois envolve a criação de uma jornada de longo prazo que assegure a viabilidade contínua das atividades humanas. A condução de iniciativas verdes, porém, é complexa e desafiadora, pois se não for feita de forma efetiva e bem-sucedida pode afetar a competitividade e a continuidade dos serviços a longo prazo.

A implementação de técnicas e modelos construtivos eficientes, com foco na sustentabilidade, tem sido fundamental no novo padrão de construção, atualização e operação de data centers. Na Elea Digital Data Centers, onde atuo como COO, adotamos uma estratégia híbrida que combina projetos greenfield e brownfield, destacando também o retrofit como uma relevante estratégia do mercado. Os ativos que compramos, por exemplo, permitem que criemos um caminho de continuidade e crescimento continuado. Já os projetos greenfield nos permitem incorporar diretamente as mais recentes inovações em eficiência energética e sustentabilidade desde a concepção, garantindo que as novas instalações sejam perfeitamente alinhadas com os padrões ambientais e operacionais mais avançados. Assim, a construção do zero, os projetos brownfield e o retrofit se complementam ao atender às necessidades e objetivos dos clientes, tendo sempre em mente a agenda ambiental.

Modernizar um data center, incluindo a consideração da localização geográfica e ações que visem a redução dos impactos ambientais, representa um grande desafio. A refrigeração dos sites, por exemplo, é um obstáculo relevante a superar. Os sistemas tradicionais, como torres de arrefecimento, consomem quantidades substanciais de água, recurso cada vez mais escasso e dispendioso. Substituir esses sistemas por chillers que realizam trocas de calor com o ar é uma opção viável e sustentável. Essa tecnologia não só reduz drasticamente o consumo de recursos hídricos, mas aprimora a eficiência energética do data center, diminuindo a demanda de energia para operações de refrigeração. Citando mais uma vez o exemplo da Elea, que opera regionalmente data centers em cinco diferentes localidades do Brasil, é possível promover não apenas a resiliência operacional e a proximidade aos clientes, mas também contribuir para descarbonização ao minimizar deslocamentos de dados e infraestrutura. Isso não é apenas benéfico para o meio ambiente, mas também fortalece a economia regional e contribui para que o ecossistema de tecnologia se torne paulatinamente mais verde.

A transformação que realizamos em nosso data center do Rio de Janeiro é um exemplo tangível dessa abordagem. Inicialmente equipado com torres de arrefecimento tradicionais, o site passou por uma modernização significativa ao substituirmos esses sistemas por chillers que utilizam troca de calor com o ar ambiente. Essa mudança reduziu drasticamente o consumo de água em nosso site e tornou o data center mais eficiente energeticamente. Também implementamos sistemas avançados de termoacumulação para assegurar a continuidade das operações, mesmo em situações de falha nos sistemas principais de refrigeração. Além das melhorias técnicas, mantemos uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que trata 100% da água utilizada nas instalações, que é reutilizada cumprindo todas as regulamentações ambientais vigentes.

Outra técnica que eu julgo crucial é o enclausuramento de corredores frios e quentes. Ao isolar o ar frio e quente em compartimentos separados, reduzimos a área que necessita de refrigeração, aumentando a eficiência do sistema de climatização. Essa prática, combinada com o monitoramento constante de set points de temperatura, permite uma operação mais estável e econômica.

A atualização de equipamentos é outro pilar importante no nosso mercado. Em data centers retrofitados, muitas vezes nos deparamos com tecnologias obsoletas que consomem mais energia do que as versões mais modernas. Investir em novos equipamentos, apesar do custo inicial elevado, se justifica pelo retorno a longo prazo em eficiência energética e redução de custos operacionais. A troca de máquinas de expansão direta por modelos mais eficientes pode resultar em uma redução significativa no consumo de energia, contribuindo para a sustentabilidade da operação.

No entanto, ser sustentável não é apenas uma questão de substituir equipamentos ou adotar novas técnicas. É uma filosofia que exige um compromisso profundo com o meio ambiente e vontade genuína de criar um futuro possível para o nosso planeta.  A sustentabilidade não deve ser vista apenas como uma resposta às regulamentações, como uma estratégia para melhorar o relacionamento de marcas com o público ou como um custo adicional para as operações. Ela representa um investimento fundamental para garantir não apenas um mercado sólido e próspero, mas a salvaguarda de nosso mundo. Significa criar uma jornada que não apenas minimize impactos ambientais, mas promova um modelo de negócios resiliente e responsável, capaz de prosperar em um futuro sustentável e interconectado.

E isso não precisa necessariamente afetar de forma negativa a saúde financeira de um negócio. As empresas devem equilibrar os custos de implementação de práticas sustentáveis com a necessidade de oferecer serviços a preços competitivos. Isso exige uma gestão eficiente dos recursos e uma visão estratégica que incorpore a sustentabilidade como um diferencial competitivo. Hoje, por exemplo, muitos clientes exigem que os data centers possuam comprovadamente um PUE baixo, ou seja, uma métrica que demonstra menor desperdício de energia – o que é muito positivo, pois é crucial que todos estejam cada vez mais exigentes quanto a esses indicadores. Isso demonstra comprometimento com práticas ambientais responsáveis e impulsiona todo o ecossistema de inovação ao adotar medidas que garantam a preservação de recursos naturais.

Em resumo, a sustentabilidade nos data centers representa um desafio complexo, mas muito fundamental. A iniciativa exige não apenas eficiência operacional, mas um compromisso real com a preservação dos recursos do nosso planeta. A jornada em direção à sustentabilidade não é apenas uma necessidade, mas uma responsabilidade compartilhada por todos os envolvidos no setor. Através da construção, arquitetura e avanços tecnológicos contínuos, podemos não apenas alcançar, mas também superar as expectativas de eficiência e responsabilidade ambiental. É imperativo que abracemos essa missão com vigor, garantindo não apenas a competitividade, mas também um legado de respeito contínuo pelo nosso planeta para as futuras gerações.